A pena mais longa, de 15 anos, foi recebida pelo cidadão iraquiano Mirkhan Rasoul, acusado de dirigir a rede.
Um tribunal francês considerou 18 pessoas culpadas num grande julgamento sobre tráfico de seres humanos que lançou luz sobre o negócio, muitas vezes mortal, de transporte de migrantes e refugiados em pequenos barcos através do Canal da Mancha, de França para o Reino Unido.
Os arguidos foram apanhados numa operação policial pan-europeia em 2022 que resultou em dezenas de detenções.
A pena mais longa, 15 anos de prisão, foi imposta na terça-feira ao cidadão iraquiano Mirkhan Rasoul, de 26 anos, acusado de ser o líder da quadrilha e de coordenar as suas ações a partir da sua cela numa prisão francesa, após condenações anteriores.
As sentenças proferidas pelo tribunal da cidade de Lille, no norte do país, para os outros 17 réus, incluindo uma mulher, variaram entre dois e 10 anos de prisão.
“Essas sentenças são obviamente muito severas”, disse Kamel Abbas, advogado que representou um dos réus já presos na França, segundo a agência de notícias Associated Press. “Isso é uma prova da magnitude do caso e da intenção de punir severamente os contrabandistas”.
A maioria dos réus não compareceu ao tribunal para receber os veredictos e sentenças. Alguns assistiram ao julgamento remotamente a partir de várias prisões no norte de França, enquanto outros não estão sob custódia.
Mandados de prisão foram emitidos para nove dos outros réus que foram condenados à revelia. Quatorze dos 18 réus são do Iraque e os outros vêm do Irão, Polónia, França e Holanda.
“Os arguidos não são voluntários que ajudam os seus semelhantes, mas sim mercadores da morte”, afirmou o procurador durante o julgamento, descrevendo como os navios estavam carregados de passageiros “até 15 vezes a sua capacidade teórica”.
Uma investigação concluiu que esta rede específica teve, de 2020 a 2022, um grande controlo sobre as travessias de França para o Reino Unido, que custaram dezenas de vidas nos últimos anos.
Mais de 50 buscas levaram à apreensão de 1.200 coletes salva-vidas, quase 150 barcos insufláveis e 50 motores de barcos durante operações realizadas em conjunto pela França, Alemanha, Bélgica, Países Baixos e Grã-Bretanha e coordenadas pelas agências Europol e Eurojust.
‘O único motivo era o lucro’
A Agência Nacional do Crime britânica (NCA) disse num comunicado que um dos homens condenados foi preso pelas autoridades britânicas e extraditado para França para julgamento.
Kaiwan Poore, 40 anos, foi detido por oficiais britânicos no aeroporto de Manchester enquanto tentava embarcar num voo para a Turquia em julho de 2022. O tribunal de Lille condenou-o a cinco anos de prisão.
A NCA disse que cada travessia de migrantes e refugiados da França para a Inglaterra rendeu à rede criminosa cerca de 100 mil euros (109 mil dólares) em lucros.
O julgamento ocorreu durante um ano particularmente mortal para as tentativas de cruzar o Canal da Mancha, uma das rotas marítimas mais movimentadas do mundo.
Mais de 31.000 pessoas fizeram a perigosa travessia este ano, mais do que em todo o ano de 2023, embora menos do que em 2022.
Pelo menos 56 pessoas morreram em tentativas este ano, de acordo com autoridades francesas, tornando 2024 o ano mais mortal desde que as travessias começaram a aumentar em 2018.
As autoridades britânicas e francesas estão a tentar melhorar a cooperação para impedir as redes de contrabando de pessoas, depois de vários anos durante os quais as tensões pós-Brexit pareciam dificultar as tentativas de resolver o problema.
A NCA disse que vários dos condenados no julgamento foram identificados graças à Joint Intelligence Cell, uma unidade especializada franco-britânica com sede no norte da França, criada para atacar traficantes de pessoas.
“O seu único motivo era o lucro e eles não se importavam com o destino dos migrantes que iam para o mar em embarcações totalmente inadequadas e perigosas”, disse o vice-diretor da NCA, Craig Turner.
Ele disse que a rede estava “entre as mais prolíficas que encontramos” em termos de número de travessias.
O primeiro-ministro britânico, Keir Starmer, prometeu “esmagar as gangues” por trás do comércio e disse que o tráfico de pessoas deveria ser equiparado ao “terrorismo” global.
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