A contagem da população está a alimentar tensões no Curdistão iraquiano, com receios de que a redução dos números diminua a influência curda no sistema sectário.
O Iraque está a realizar um censo nacional, a sua primeira tentativa de recolher dados demográficos desde 1987, quando Saddam Hussein ainda estava no poder.
O Ministério do Interior anunciou um toque de recolher de dois dias para a extensa operação, que fará com que 120 mil pesquisadores coletem dados de famílias nas 18 províncias do país na quarta e quinta-feira.
O porta-voz do Ministério do Planeamento, Abdul-Zahra al-Hindawi, disse que o censo, realizado com o Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA), revelaria “a realidade do Iraque nos seus mais pequenos detalhes”, permitindo às autoridades identificar lacunas na saúde, educação e habitação.
O Iraque passou grande parte das últimas décadas devastado por conflitos e sanções, pela invasão liderada pelos EUA em 2003 que derrubou Hussein, seguida por conflitos sectários e pela ascensão do grupo ISIL (ISIS).
O acto de contar a população pode revelar-se controverso e espera-se que o censo tenha implicações profundas na distribuição de recursos, nas afectações orçamentais e no planeamento do desenvolvimento do Iraque.
Em particular, reacendeu as tensões entre Bagdad e o Curdistão iraquiano, com este último a temer que qualquer declínio documentado da população curda reduza a influência política e os direitos económicos do grupo no sistema sectário de partilha de poder do país.
A contagem em territórios como Kirkuk, Diyala e Mossul – onde o controlo é disputado entre o governo central em Bagdad e o governo regional curdo semiautónomo no norte – tem estado sob intenso escrutínio.
Ali Arian Saleh, director executivo do censo no Ministério do Planeamento, disse que investigadores de todos os grupos étnicos (curdos, árabes, turcomanos e cristãos) conduziriam o censo em áreas disputadas para “garantir a justiça”.
Saleh disse que a parcela da região curda no orçamento nacional (actualmente 12 por cento) se baseia numa população estimada de seis milhões. Ele estimou a população total do Iraque em 44,5 milhões.
O censo, que irá recolher informações dos agregados familiares sobre temas como saúde, educação e emprego, inclui a religião, mas não faz distinção entre seitas, como os muçulmanos sunitas e xiitas. Ao contrário das contagens anteriores, exclui a etnia.
A demografia provavelmente mudou com o exílio de centenas de milhares de cristãos, e também de dezenas de milhares de famílias yazidis que foram deslocadas de Sinjar por atrocidades cometidas pelo ISIL.
O último censo nacional no Iraque foi realizado em 1987. Outro, em 1997, excluiu as três províncias do norte que compõem a região semiautônoma do Curdistão.
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