Na manifestação, ou melhor, na reunião intimista que o Chega organizou em frente ao Parlamento no passado sábado, foi repetidamente entoado o grito “Bandido, ladrão, o teu lugar é na prisão”. Por outro lado, o Chega partilha autocarros com neonazis, elege vereadores que se vestem como neonazis e não se importa de aparecer ao lado de neonazis. No fundo, o Chega quer apelar tanto ao eleitorado que exige mais segurança como ao eleitorado que quer criar o caos. Fica claro porque a manifestação de apoio à polícia não teve tanto apoio como a anterior: em princípio, os extremistas mais violentos nada ganham associando-se à causa daqueles que podem prendê-los.
Naquele piquenique do fim de semana, o secretário-geral do Chega, Rui Paulo Sousa, foi filmado a lamentar que um líder do partido não tivesse trazido a sua “roupa de caça (…), a espingarda e assim por diante (…) quando vierem, bum”. Segundo a minha investigação, São Bento não é zona de caça, embora naquele dia houvesse muitos javalis. Portanto, a conclusão óbvia é que há elementos do Chega extremamente entusiasmados com a ideia de violência política.
Enough realmente apoia a polícia ou ele é apenas obcecado por armas? Duvido até que os dirigentes desse partido sejam bons caçadores. Na caça, a camuflagem é importante; No Chega tudo se faz à vista. É curioso que se tenha falado em armar civis numa manifestação de apoio às autoridades: o Estado tem o monopólio da violência, mas o partido de André Ventura parece querer um pedaço deste mercado.
Não creio que estes líderes devam ser punidos pelo que disseram, numa conversa claramente informal e inconsequente. É necessário que as autoridades permaneçam alertas para evitar essas alusões. Tentar punir as declarações inflamatórias de Pedro Pinto, André Ventura e Ricardo Reis poderá resultar na vitória do Chega, se isso resultar, por exemplo, na apresentação da denúncia. Em vez de suprimir estas palavras, é necessário repeti-las para que ninguém tenha dúvidas sobre a ameaça fascista que constituem. Qualquer entrevista a André Ventura, qualquer declaração do primeiro-ministro sobre o Chega deveria conter a frase “sim, mas estamos a falar de um partido que celebra a morte de cidadãos, deseja a morte aos adversários políticos e quer que a polícia mate mais”. Não há mais conversa para ter.
Esta semana assinala-se o 35º aniversário do assassinato, por neonazis, de José Carvalho, líder do PSR. O assassino foi condenado a 11 anos de prisão, uma pena muito leve para os padrões do partido, que exige prisão perpétua. Ele está em liberdade desde 2003 e, no início deste ano, foi preso por atacar um vizinho com um machado. Houve pessoas condenadas no caso da morte de José Carvalho que, anos depois, estiveram envolvidas no assassinato de Alcindo Monteiro. Todos gente boa, nada a ver com as maldades a que Ventura se opõe. O homicídio ocorreu na sede do PSR, hoje Bloco de Esquerda, na Rua da Palma, junto ao Martim Moniz. O Chega tem razão quando diz que esta zona é perigosa: aliás, a extrema-direita já matou pessoas ali.
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Endless Thinker